sexta-feira, 22 de abril de 2011

Escultura de José Borges


 Feita em fibra e resina a escultura, de corpo inteiro, tem aproximadamete um metro e sessenta de altura. Representa o grande seresteiro José Borges, de chapéu, empunhando um violão. Na base, uma placa com o registro: nascido em 09/11/1922 e falecido em 29/11/2002.
 A escultura, de autoria de Mário Campioli, é uma homenagem da esposa, Sra. Marlene de Carvalho Borges. 
 Você pode visitá-la na Travessa Professora Geralda Fonseca, em frente ao nº 87, esquina com a Rua Oswaldo Fonseca, local onde os seresteiros reúnem-se para as serenatas nas noites de sexta-feira e sábados.

Final: dia 14 de Maio de 2011

CARINHOSO
(Pixinguinha-João de Barro)

Meu coração,
não sei por quê
bate feliz
quando te vê...
E os meus olhos ficam sorrindo,
e, pelas ruas, vão te seguindo,
mas, mesmo assim,
foges de mim...
Ah, se tu soubesses
como eu sou tão carinhoso
e o muito, muito que te quero,
e como é sincero o emu amor,
eu sei que tu não fugirias
mais de mim.
Vem, vem, vem,vem,
vem sentir o calor
dos lábios meus
à procura dos teus.
Vem matar esta paixão
que me devora o coração
e, só assim, então,
serei feliz... bem feliz!

Orlando Silva

O cantor das multidões


Apesar de nunca ter estudado música e ser extremamente tímido, desde pequeno era atraído pelo canto. Chegou a cantar em circos, clubes, restaurantes e cinemas. Em 1934, apresentado pelo compositor Bororó, estreou na Rádio Cajuti no programa de Francisco Alves, o qual ajudou-o muito em sua carreira. Gravou seu primeiro disco na Colúmbia com o samba Olha a baiana (Kid Pepe e Germano Augusto Coelho) e a marcha Ondas curtas (Kid Pepe e Zeca Ivo), ambas para o carnaval de 1935. Seu segundo disco foi feito neste mesmo ano na RCA Victor, onde permaneceu até 1942. Este foi o período de ouro em sua carreira.

A primeira vez que o Orlando saiu do Rio foi para se apresentar em Santos, logo em seguida São Paulo. Cantou praticamente em todo o Brasil, e seja lá onde se exibisse, realmente arrebatava multidões para assisti-lo.

Quando veio a São Paulo em 1938 e cantou para um público de 10 mil pessoas, o radialista Oduvaldo Cozzi lhe atribuiu o "slogan" de "O Cantor das Multidões".

Cantando, chegou a participar de três filmes Cidade mulher (1936), com a música de Noel Rosa que deu título ao filme, Banana da terra (1939), interpretando A jardineira de Benedito Lacerda e Humberto Porto e Segura essa mulher (1946) com a música Carnaval do passado de Lamartine Babo.

Em 1939, depois de um espetáculo do famoso tenor italiano Tito Schippa, Orlando foi cumprimentá-lo e perguntou-lhe: "Mestre, o que devo fazer para ter a sua técnica?". O tenor pediu-lhe para cantar, ali mesmo, duas ou três músicas, e ao final lhe disse: "Bravo, bravíssimo! Quer saber de uma coisa, rapaz? Você não precisa estudar nada, continue assim, eu gostaria de poder cantar exatamente como você, que canta o que quer. Sou obrigado a cantar o que eles querem..."1

Em 1942 começou um processo de alteração do timbre da voz devido à utilização de morfina (o cantor teve sérios problemas dentários nessa época e a utilizava para aliviar as dores), da qual ficou dependente. Mais tarde passou também para o álcool. Apesar disto, continuou gravando pelo selo Odeon, mas seu prestígio, a partir daí, foi decaindo.

Em sua carreira cantou nas rádios Inconfidência (com programa próprio), Transmissora, Nacional (desde sua inauguração em 1936 até 1945, quando foi afastado), Mayrink Veiga e Guanabara.

Em 1951, em fase de restabelecimento, novamente Francisco Alves o levou para apresentações esporádicas na Rádio Nacional. Já no ano seguinte, com a morte do "Rei da Voz", foi indicado para substituí-lo no programa dominical de maior audiência da Rádio, Quando os ponteiros se encontram, o que fez até 1955.

Em 1940 teve um caso amoroso atribulado com a atriz Zezé Fonseca (Maria José Fonseca) que durou até 1943. Em 1947 casou-se com Maria de Lourdes Souza Franco, que o ajudou muito a reerguer-se da vida desregrada.

Em 1956, por forçar demais a caminhada, teve de amputar o pé por receio de gangrena e receber um pé mecânico.

Em 1959 voltou a gravar pela RCA Victor onde permaneceu até a sua morte. Em 1974 gravou na Victor o LP Orlando Silva Hoje com músicas de Taiguara, Antônio Carlos e Jocafi, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros.

Em 7/8/1978 faleceu no Hospital Gaffrée Guinle e foi sepultado no Cemitério São João Batista. O público participou do cortejo entoando a valsa Carinhoso.

Túnel de Pedra


Situado a aproximadamente 500 metros da Praça Getúlio Vargas, foi construído pelos escravos, no século XIX, para permitir a passagem da velha locomotiva.
Ponto de visitação obrigatória.
Diz a lenda que água que pinga incessantemente das paredes do túnel são as lágrimas dos escravos que o escavaram somente com marretas e talhadeiras.

Silvio Caldas


O caboclinho querido


Seu primeiro registro em disco, de forma ainda amadora foi na Brunswik com o samba Quando o Príncipe chegar, em homenagem ao Príncipe de Gales, Duque de Windsor, em visita ao Brasil. Seu primeiro disco comercial deu-se em 1930 na Victor, com Amoroso, samba de sua autoria. Em 1931 participou da revista musical da Companhia Margarida Max, Brasil do amor cantando Faceira, de Ary Barroso, seu primeiro grande sucesso, onde na noite de 14 de maio de 1931 teve de bisá-la 8 vezes.

Como ator, trabalhou em várias peças como: Ri de palhaço, de Marques Porto e Paulo Orlando. Fez ainda parte do elenco nos filmes Favela dos meus amores, de 1935 (onde foi o Zé Carioca), Carioca Maravilhosa, de 1935 produzido Sebastião Santos e Luz dos meus olhos, de 1947 dirigido por José Carlos Burle.

Os apelidos que ganhou em sua trajetória artística foram "Rouxinol da Família Ideal", "O Cantor que Valoriza as Palavras", "Silvinho", "Poeta da Voz", "Seresteiro", "Caboclinho Querido", dado por César Ladeira, "A Voz Morena da Cidade", dado por Cristóvão de Alencar, ou simplesmente "Titio".

Com versos de Sebastião Fonseca de 1937, Sílvio lançou em 1951 a sua Violões em funeral, em homenagem a Noel Rosa. Em 1952 lançou pela Sinter a canção Silêncio do cantor, de Joubert de Carvalho e David Nasser, em homenagem a Francisco Alves, que em setembro daquele ano falecera, vítima de um trágico acidente automobilístico.

A partir de 1954 passou a gravar pela Columbia (mais tarde CBS e hoje Sony Music), recém-inaugurada em São Paulo. Em 1956 apresentou o programa Os Degraus da Glória, na Rádio Gazeta paulistana. Ainda na capital paulista, na TV Record, apresentou um programa semanal exclusivamente seu.
Parou de gravar no final da década de 70, mas sempre foi convidado a apresentar-se em espetáculos, adiando assim a sua despedida dos palcos. Em 1995, com 87 anos, Sílvio Caldas se apresentou em São Paulo no Sesc Pompéia, ao lado de Doris Monteiro, Miltinho, Noite Ilustrada e o Trovadores Urbanos, relembrando grandes sucessos da Música Popular Brasileira que, por sinal, ajudou a imortalizar.


Dono de uma saúde extraordinária, Sílvio Caldas foi o cantor de mais longa atividade na MPB. Infelizmente, no seu último ano da vida, o cantor sofreu crises de depressão e anorexia, falecendo por insuficiência cardiorrespiratória  no dia 3/2/1998, em Atibaia/SP.

Cândido das Neves


Cândido das Neves, apelidado de "Índio", compositor, cantor e instrumentista, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 24/07/1899 e faleceu em 04/11/1934. Filho do popular cantor e palhaço Eduardo das Neves, começou a se interessar pelo violão desde os cinco anos de idade. O pai, no entanto, queria que ele tivesse instrução e por isso colocou-o num colégio interno. Em 1917, porém, já aparecia como integrante do rancho Heróis da Piedade. Concluiu seus estudos, tendo perdido o pai a 11 de novembro de 1919, dia de sua formatura. Empregou-se como funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil, tornando-se conferente de estação.

Nessa época já compunha e fazia serestas pelas madrugadas cariocas, com seus colegas de trabalho Henrique de Melo Morais (tio de Vinícius de Morais) e Uriel Lourival, entre outros. Em 1922 gravou, cantando, Saudades do sertão e o fox-trot Quadra de amor na Odeon (em discos mecânicos da Casa Edison), composições suas. Por 1925-1926 foi transferido para Conselheiro Lafaiete MG, onde passou um ano, continuando a cantar e tocar nas serestas com os companheiros da Central do Brasil. Sua primeira gravação de sucesso foi o tango Noite Cheia de Estrelas (inspirado no tango Madre de Francisco Pracanico e Verminio Servetto, de muito sucesso na época), gravado em 1932, já na fase elétrica, por Vicente Celestino. Suas letras, sempre muito extensas, cantavam a natureza duma forma romântica, tornando-se muito apreciadas pelo público.

Por volta de 1930 apresentou-se, algumas vezes, no programa de Gastão Lamounier na Rádio Educadora da Brasil, com Melo Morais, Em 1932 gravou com Melo Morais, fazendo a segunda voz, as canções-sertanejas Rosa morena e Luar de minha terra (ambas de sua autoria). Nessa mesma época compôs Versos de longe, gravada por Melo Morais. Em suas apresentações era aplaudido não só pelos seus versos e voz, como também pela sua execução no violão. Dedicou-se também ao ensino, pois escrevia e lia música. Sempre fiel à modinha popular, compôs também valsas, serestas e tangos.

Em 1932 começou a se afastar gradativamente das rodas boêmias, por problemas de saúde. Em 1934, ganhou o primeiro lugar no concurso de músicas carnavalescas da revista O Malho, na categoria samba, com Perdi o meu pandeiro, que não foi gravado. Sofria já, em 1934, da tuberculose galopante na laringe, que o levou à morte. Muitas de suas músicas, que se tornaram grandes sucessos, só vieram a ser gravadas após seu desaparecimento. Entre elas se encontram A Última Estrofe, inicialmente gravada em 1932 par Fernando Castro Barbosa, regravada por Orlando Silva em 1935, e que viria a ter gravações de Vicente Celestino, Nelson Gonçalves e Sílvio Caldas; Lágrimas, gravada por Orlando Silva em 1935; Apoteose do Amor, gravada em 1936 por Orlando Silva; e Página de Dor, feita em parceria com Pixinguinha, gravada por Orlando Silva em 1938, na Victor.
ÚLTIMA ESTROFE
(Cândido das Neves)

A noite estava, assim, enluarada,
quando a voz, já bem cansada,
eu ouvi do trovador.
Nos versos que vibravam de harmonia
ele, em lágrimas, dizia
da saudade de um amor.
Falava de um beijo apaixonado,
de um amor desesperado,
que tão cedo teve fim...
E, desses gritos de tormento,
eu guardei no pensamento
uma estrofe que era assim:
Lua, vinha perto a madrugada
quando, um ânsias, minha amada
nos meus braços desmaiou.
E o beijo do pecado
o teu véu estrelejado,
a luzir glorificou.
Lua, hoje eu vivo tão sozinho,
ao relento, sem carinho,
na esperança mais atroz
de que, cantando em noite linda,
essa ingrata volte ainda,
escutando a minha voz...
A estrofe derradeira merencorea,
revelava toda a história
de um amor que se perdeu.
E a lua, que rondava a natureza,
solidária com a tristeza
entre as nuvens se escondeu.
Cantor, que assim falas à lua,
minha história é igual à tua,
meu amor também fugiu...
Disse-lhe eu em ais convulsos
e ele, então, entre soluços,
toda a estrofe repetiu...
 

Igreja Matriz de Santo Antônio

A Matriz tem 23 metros de frente, 36 de fundos e 25 de altura, no seu ponto mais alto. É uma obra toda em pedra de cantaria, sendo que as pedras das paredes têm 1,60 m de espessura. Foi inaugurada depois de 18 anos de trabalhos demorados, e sofreu sua primeira reforma em 1874. Em 16 de outubro de 1893, a Câmara Municipal de Valença concedeu 1.000$000 para o término das obras (ornamentação dos altares e construção do púlpito).

Internamente, o templo dispõe, atualmente, de espaçosa Nave Central, mais o amplo Presbitério com um lindo Altar-Mor e mais 4 altares laterais construídos com a participação dos fiéis que os dedicavam à veneração dos seus santos de devoção.

Do lado direito do Prestibério, fica a Capela do Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores, e que hoje abriga o Museu Sacro da Paróquia. Do lado esquerdo, fica a Capela do Santíssimo Sacramento, e que também é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus.

Ao entrar na Igreja, podemos ver, à esquerda, uma primitiva pia batismal, toda em mármore de Carrara, e à direita, a escadaria que dá acesso ao coro e aos sinos.
Texto a partir da Pesquisa de Victor Emmanuel Couto e Helvécio José Marques,
publicado em junho de 2000
NOITE CHEIA DE ESTRELAS
(Cândido das Neves)

Noite alta, céu risonho,
a quietude é quase um sonho...
O luar cai sobre a mata,
qual uma chuva de prata
de raríssimo esplendor.
Só tu dormes, não escutas o teu cantor
revelando a lua airosa
a história dolorosa deste amor.
Lua, manda a tua luz prateada
despertar a minha amada!
Quero matar os meus desejos,
sufocá-la com meus beijos...
Canto, e a mulher que eu amo tanto
não me escuta, está dormindo.
Canto e, por fim,
nem a lua tem pena de mim,
pois, ao ver que quem te chama sou eu,
entre a neblina se escondeu.
Lá no alto a lua esquiva
está no céu tão pensativa...
As estrelas tão serenas,
qual dilúvio de falenas,
andam tontas ao luar...
Todo o astral ficou silente
para escutar
o teu nome esntre as endechas
e as dolorosas queixas
ao luar!
 

As serenatas


Joubert Cortines de Freitas (8-9-1921) e José Borges de Freitas Netto (9-11-1922 / 29-11-2002), nascidos no distrito vizinho de Santa Izabel do Rio Preto (Região da Serra da Beleza), foram iniciados na música ainda crianças, pelo pai Antônio Borges de Freitas Sobrinho. A família chegou a Conservatória em 1938, quando "seu" Antonico, agente ferroviário da Central do Brasil, aposentou-se. Os dois irmãos, ainda adolescentes, integraram-se ao movimento musical que já existia.
Foi na década de 50, com a partida do notável seresteiro Emérito Silva ("Merito"), que Joubert e José Borges assumiram, gradualmente, a liderança da serenata. José Borges formou-se advogado e Joubert professor de matemática.


Trabalharam nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa época as serenatas aconteciam apenas no período das férias escolares e nos feriados prolongados, porém diariamente. A casa onde hoje se localiza o Museu da Seresta e Serenata, tornou-se ponto de encontro dos seresteiros a partir da década de 60 e conserva sua forma original até hoje. Foi também nesta época que teve início o projeto "Em toda casa uma canção", idealizado por José Borges e Joubert, objetivando perpetuar nas fachadas das casas o nome dos compositores cujas canções são cantadas nas ruas de Conservatória preservando, assim, a alma lírica brasileira. A escolha da música, sempre de amor, é feita pelo morador. As placas não se repetem e o projeto foi concluído em Dez/2003, com 403 placas.
É pela persistência e dedicação desses irmãos, apoiados por novos idealistas que, ao longo dos anos, juntaram-se aos dois, que o movimento musical vem resistindo até os dias de hoje. A serenata de Conservatória, começou a sensibilizar a imprensa na década de 50, mas foi o célebre jornalista Nestor de Holanda (companheiro de quartel do seresteiro Joubert), em 1967, no Jornal Diário de Notícias, criando a expressão "Vila das Ruas Sonoras", e a matéria da renomada revista O Cruzeiro, em 1968, que deram início a uma seqüência de reportagens que, mais adiante, mobilizou também a imprensa estrangeira. O resultado foi a vinda de um número cada vez maior de visitantes, abrindo espaço para a iniciativa privada e o desenvolvimento do distrito, transformando o turismo cultural na principal atividade econômica do lugar.
O substancial número de turistas todos os finais de semana provocou modificações na serenata, que evoluiu do canto à janela da amada, no silêncio da madrugada, até a emocionante confraternização musical que acontece atualmente, pelas ruas do centro urbano, nas noites de sextas e sábados, a partir das 23 horas.






RUA DAS FLORES(José Borges de Freitas Netto)

Moramos na Rua das Flores,
o bairro da felicidade,
a rua do túnel tristonho
caminho que vai pra saudade...
Vem à lembança,
o velho trenzinho apitando...
Tristeza nos olhos molhados...
Adeus de lenço acenando...
Quantas mulheres
partiram de trem soluçando...
Dizem que é de saudade
que o túnel vive chorando...

Museu da Seresta e Serenata


"No final da década de 50, idealizamos um mundo de canções onde as pessoas que gostassem de cantar, tocar e ouvir pudessem conviver com tranqüilidade.
Esse plano - Conservatória, em toda casa uma canção - visava preservar as canções brasileiras de amor, cantadas em serenata desde 1938 quando chegamos ao lugar, com a alma ainda marcada pela Serra da Beleza.
Em levantamento criterioso, abrangendo o período de 1938 a 1958, concluímos pela existência de cerca de 150 canções incorporadas à memória musical do lugar.
A forma de eternização das canções se realizou mediante plaquetas metálicas (hoje de aço inoxidável), afixadas nas fachadas das casas, com indicação do título da obra musical e os nomes dos autores.
Colocadas inicialmente dez placas nas esquinas do centro urbano, a fim de verificar a aceitação da comunidade, a resposta positiva revelou a canção que cada um guardava no coração, facilitando a "sonorização" de diversas casas.
Simultaneamente, o Museu da Seresta, uma casa particular, sem bebidas, de portas abertas para o bate-papo e reuniões musicais, começava a surgir para ser a síntese do lirismo das ruas. Obra de idealismo, o Museu nasceu independente, como ainda ocorre, da interferência oficial e sem vínculo comercial, razão principal do seu êxito.
A finalidade precípua consiste em manter viva e pura a serenata pela rua, especialmente em noite de luar e estrelada, preservando canções de amor de ontem, como O Lenço Dela (do século XIX) - de Álvares de Azevedo, Lua Branca (de 1911) - de Chiquinha Gonzaga, Noite Cheia de Estrelas e Última Estrofe (década de 30) - de Cândido das Neves, sem esquecer outras canções de amor, da fase antiga e contemporânea, de compositores como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Fágner, Paulinho Tapajós e Carlos Colla, integradas no patrimônio sentimental do povo brasileiro.
Tocar e cantar em recinto fechado constitui rotina no Brasil inteiro. Conservatória se distingüe de outras cidades porque, há muitos anos, canta pela rua em serenata, sendo considerado o lugar mais bonito do mundo pelo escritor e jornalista Artur da Távola."

José Borges e Joubert de Freitas / Museu da Seresta

Texto transcrito do livro "Conservatória - Canções Que a Serenata Eternizou" - volume 1 - organizado e produzido por Eládio da Silva Nunes - 1996.


LOCOMOTIVA 206


A velha Locomotiva 206 é uma atração de Conservatória. Imponente e bem-conservada, serve de cenário para fotos dos  turistas que procuram por este "Pedacinho do Céu" para aspirar paz, poesia, brasilidade.

...

Construída na Filadélfia - EUA, no ano de 1910, graças ao grande inventor inglês Jorge Stepheson. Mede 6m de comprimento, 3,15m de altura e 2,86m de largura. Tem como destaque os seguintes assessórios: sino, apito e farol. Foi a segunda a transitar em Conservatória, a primeira foi a Locomotiva 1, trazida da Alemanha por Don Pedro II. Dos anos 1920 até 1935, a 206 fez o trajeto da Estação de Barra do Piraí, no Estado do Rio, até a Estação de Soledade no Estado de Minas. O maquinista era o Sr. Manoel Vicente Sobrinho e o foguista José Miguel Araújo. O traçado da antiga linha férrea cortava as montanhas do Estado do Rio e de Minas Gerais; era uma viagem simplesmente maravilhosa; lindos túneis, pontes, cortes de pedra, muitos "mata-burros" e... uma paisagem deslumbrante, sendo a mais linda de todas a da Serra da Beleza, entre Conservatória e Santa Isabel do Rio Preto. Com o aumento de passageiros na linha, foi necessário a troca por uma locomotiva mais possante, da série 400. Abandonada desde os anos 60 na garagem férrea de Barra do Piraí foi levada para Conservatória por iniciativa de algumas pessoas entre elas o Dr. Paulo Teixeira e o vereador Vitinho, com o intuito de relembrar o tempo da Maria Fumaça e tornar-se um atrativo turístico. A transferência deu-se em novembro de 1981. Tem uma canção do seresteiro José Borges relatando a saudade que as viagens de trem deixaram no povo de Conservatória e que foi composta quando feita a transferência para onde se encontra até hoje, entre a rua das Flores e a rua Pedro Gomes, próxima à antiga Estação Ferroviária de Conservatória.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A canção que encerra as serenatas em Conservatória

BOA-NOITE, AMOR
(José Maria de Abreu - Francisco Mattoso)

Quando a noite descer,
insinuando nos olhos teus,
olhando nos olhos teus
hei-de, beijando teus dedos, dizer:

"Boa-noite, amor,
meu grande amor,
contigo sonharei..."
E a minha dor
esquecerei
se eu souber que o sonho teu
foi o mesmo sonho meu...
"Boa-noite, amor,
e sonha, enfim,
pensando sempre em mim..."
Na carícia de um beijo
que ficou no desejo...
"Boa-noite, meu grande amor."


José Borges e Joubert de Freitas

"Conservatória:
um sonho musical"
Texto de Marluce Magno

 

A serenata de Conservatória, começou a sensibilizar a imprensa na década de 50, mas foi o célebre jornalista Nestor de Holanda (companheiro de quartel do seresteiro Joubert), em 1967, no Jornal Diário de Notícias, criando a expressão "Vila das Ruas Sonoras", e a matéria da renomada revista O Cruzeiro, em 1968, que deram início a uma seqüência de reportagens que, mais adiante, mobilizou também a imprensa estrangeira. O resultado foi a vinda de um número cada vez maior de visitantes, abrindo espaço para a iniciativa privada e o desenvolvimento do distrito, transformando o turismo cultural na principal atividade econômica do lugar.


 

PRELÚDIO PRA NINAR GENTE GRANDE(Luiz Vieira)

Quando estou
nos braços teus,
sinto o mundo
bocejar...
Quando estás nos braços meus,
sinto a vida descansar.
No calor do teu carinho
sou menino-passarinho
com vontade de voar...
Sou menino-passarinho
com vontade de voar!

Fiéis a tradição, os "cantadores" e "violeiros" apresentam-se sem qualquer ajuda de equipamento eletrônico, contando exclusivamente com a participação dos visitantes, seja para acompanhar na cantoria, ou para fazer silêncio, de forma que todos possam ouvir. Ao visitar Conservatória, descobre-se a diferença entre seresta e serenata: a primeira refere-se ao canto em ambiente fechado, a segunda, ao canto noturno, ao ar livre, sob o sereno, à luz das estrelas e do luar. É a serenata que diferencia Conservatória de qualquer outro lugar do país. Divulgações equivocadas, referem-se a Conservatória como "Cidade das Serestas" quando o mais correto seria "Cidade das Serestas e Serenatas", ou simplesmente "Capital da Serenata ", no dizer do jornalista Gianni Carta, em publicação na Inglaterra.
Mágica, simpática e hospitaleira, Conservatória - também conhecida como "Pedacinho do Céu" - está escondida num cantinho da serra fluminense, a 120 quilômetros da capital do RJ. Todos os finais de semana, a seresta espalha a paz e encantamento nos corações apaixonados, mantendo vivas as chamas do amor, do sonho, da poesia e de algumas importantes tradições.